KLANG
FARBEN
MELODIE


gesto poético de pintar com sons.
Em Outubro, iniciou na Galeria da Anita Schwartz, uma série de encontros em torno da exposição coletiva “Klangfarbenmelodie”, em sequência, algumas conversas com os artistas convidados e produtores das obras que a curadoria escolheu para compor a montagem e a cena no circuito de arte moderna contemporânea no Rio de Janeiro.


Muito naturalmente, falou-se sobre os termos de parâmetros que se articulam em torno da forma música, ex.: tonalidade, timbre, melodia e harmonia, que abriu um diálogo poético entre as figuras de linguagem, interpretações e transgressões às leis da tonalidade.


[Paisagem EO.395, Waltercio Caldas]

Enquanto contemplava a obra “Paisagem EO.395”, 2007 do Waltercio Caldas, pensava-se na descrição figurativa da alma lógica na harmonia, sob uma frase de padrões melódicos, em um retrato a escultura, descreve sob materiais concretos: aço, acrílico, granito polido de dimensões variáveis, quase uma partitura equilibrada no ar. Muito lembra a obra do grego arquiteto e compositor Iannis Xenakis, que construiu estruturas musicais para desenhos arquitetônicos específicos no espaço, e.g.: o “Pavilhão Philips" em Bruxelas, 1956-58, com o arquiteto com quem trabalhava em Paris, Le Corbusier. Xenakis aceitou o convite e preparou um Interlúdio Sonoro, para a inauguração do Pavilhão, obra que mais tarde é nomeada “Concreto PH”.


[Poetamenos, Augusto de Campos]

Dito isso, ao passo que o instrumento em poesia é a palavra e, dado que em música é o som absoluto de um tom de uma nominada nota, não obstante é a obra do Augusto de Campos, “Poetamenos”, 1953, também parte da exposição, que explora o espaço no papel, para compôr a forma concreta do poema.



Lembrava também sobre um acontecimento “raro”, quando ouvira o comentário de dois músicos no elevador, que levantavam a analogia sobre a natureza de um fenômeno do acaso social, ao observar um evento, com o sistemático uso na esfera da estrutura tonal, quando notara recentemente, o mesmo surpreendente acidente: o “ré bemol”. Natural que o inesperado colapso de carros, não estava previsto. Ainda que, à princípio, o conceito de harmonia está livre de falhas, as invenções e o estudo teórico do Schoenberg, A., precursor da ruptura tonal e transgressor na Escola de Viena, é contudo, condizente dentre as possibilidades que pertencem a um raciocínio lógico dentro da escala cromática.


Enquanto o “ruído”: rosa, cinza e branco qualificados, com a “licença poética” em tufos de nuvens sonoras, predições tecnicamente imensuráveis ao tempo musical em partituras, por exemplo, porém interpretado  em performances da música moderna contemporânea como os “microtons”: texturas granulares que transpassam tons e semitons; A impressão analítica muitas vezes não distingue o “noise” de uma poeira com propriedade dispersa e peso insustentável em qualidade material, diferente do que estabelece um pulso de som, no ar. No entanto, no ruído também há um padrão rítmico observável. Formas mais reconhecíveis visualmente do que percebidas através dos ouvidos. Observados e descritos, porém com calculável princípio, consoantes com a ocorrência de uma forma emergente de perfeição para a arte: a absoluta esperança de uma plano poético que realiza e alcança a impalpável beleza do som - que quando está sob incontrolável natureza, arrisca um perigo de caráter ensurdecedor para o limite físico da cóclea.


Do claro ao escuro, a cor no espectro de uma frequência sonora, que contextualiza e caracteriza um espaço com atmosfera luminosa, brilhando entre a conhecida temperatura de um conjunto predefinido de notas tonais e o obscuro dentre o oceano de elementos sônicos que ainda não têm denominação e os que são sugeridos entrelinhas em microtons, na arte da composição, compreendidos ao mesmo passo que o silêncio, na paleta de sons para a estrutura de uma obra musical.


[Montanha com céu encoberto, Yolanda Freyre e Cristiano Lenhardt]

Além das cores e padrões rítmicos em quadros, que trazem uma impressão pontual na escolha para a coleção da exposição temporária, nas obras de pintura do Cristiano Lenhardt e a “Montanha com céu encoberto”, 1983 da Yolanda Freyre, p. ex., nas quais persiste uma técnica de estética e impressão, onde observa-se na textura a perspectiva do todo, através de uma pequena parte, de modo que a conversa sobre a palavra “Klangfarbe”, título da exposição, que significa “timbre”: a cor de som que cada instrumento pode variavelmente gerar, e que produz de forma sutil, a união de dois significados para iluminar ao verso, o gesto poético de pintar com sons.



Enquanto, às asas da imaginação, estações de tempo transformam movimentos organizados em quatro ciclos que esperam mudanças na natureza ao longo de um ano e descobertas projetam em pulsos da fauna e da flora, surpresas eufóricas em formas de estruturas raras. Um pode compreender a atual modernidade, o “novo clássico”, através da perspectiva de uma orquestra de vaga-lumes que aspiram por um certo caráter de heroísmo, às quais perguntas, um fator de sorte explora o encontro do balanço de polaridades em contraponto com: a segurança e o risco, entre mecanismos de chance, variações de padrão e composições escritas para expressar em notas e ritmo, ao invés do cálculo verificável presumível, o cenário do nosso tempo…


[Interpretação, Paulo Vivacqua]
Falava sobre a obra do Paulo Vivacqua, Interpretação, 2012 e sobre a interpretação subjetiva e objetiva do som, à luz de uma essência do espírito flexível do humor, que explora a matéria em significados, abstrato e concreto, p. ex.: teórico Pierre Schaeffer e o ensaio: “Tratado dos Objetos Sonoros e Musicais”, 1966.

Menciona também, a ruptura da forma e cadência, quando já determinava uma frase musical no classicismo, donde respeitava-se a vontade da corte, mas causara o estranhamento aos ouvidos acostumados com atos que terminavam flutuantes, sob tonalidade suspensa, por resolver harmonicamente, em movimentos de Debussy, C. e Wagner, R., p.ex. e outras novas leis em termos de sequência de notas, p.ex.: Schoenberg, A. que delegou o “Dodecafonismo” aos alunos da Neue Wiener Schule, a Segunda Escola de Viena, Webern, A. e Berg, A. que desenvolveram as suas obras principalmente de acordo com a seguinte condição: uma nota só podia se repetir, depois que todas as outras 11 fossem devidamente tocadas e percebidas. Diferente das “Quatro Estações” de Vivaldi, A. que expressa na sua obra, temporadas de estações ao longo de um ano, talvez Schoenberg escrevia também sobre passagem do tempo, em música e sobre a existência, através da vasta possibilidade de sons que constrói o corpo de instrumentos musicais.


Schulz Vazquez, Luiza

Rio de Janeiro, Novembro 7 2022
Cortesia à Anita Schwartz, artistas e curadoria
da exposição coletiva: KLANGFARBENMELODIE, em Setembro 6 Dezembro 2022

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